CD "Problema Meu" - Clarice Falcão - Resenha

É provável que você já conheça Clarice Falcão, se não for pela sua música, é pelo seu trabalho no canal “Porta dos Fundos’’ no YouTube. A atriz, cantora e humorista começou a chamar a atenção do público postando vídeos simples de suas músicas em seu canal em 2011. Depois de milhões de acessos e com toda a notoriedade conquistada, ela lançou seu primeiro álbum, intitulado “Monomania” (2013).

Devido ao sucesso do primeiro trabalho, a cantora acabou por criar uma expectativa em seu público, que já estava ansioso por mais das canções únicas que só ela sabe compor.

Em 14 de março desse ano, Clarice lançou seu segundo CD, intitulado “Problema Meu”. No entanto, a cantora apostou em algo perigoso ao sair um pouco de sua zona de conforto musical. Sempre que um cantor lança um novo trabalho, a expectativa mais básica é se será “mais do mesmo” ou “diferente demais”, por isso digo que “Problema Meu” foi um passo arriscado.

“Irônico” é a primeira música do álbum e também foi o primeiro single lançado. Com uma melodia bem próxima de uma marchinha de carnaval (e o clipe gravado no carnaval do Rio de Janeiro), a canção mostra que o álbum traz uma visão diferente do amor, colocando sempre um toque particular de ironia e duplos sentidos.

“Eu já achei quem eu amasse de verdade

E eu pensei que era muito bom amar

Mas vai que alguém espalha isso na cidade

Com que cara eu vou ficar?

Eu gosto de você como quem gosta

De um perfil no Facebook que usa foto de casal

Eu gosto de você como quem gosta de quem já saiu do BBB”

“Escolhi você” vem em seguida trazendo mais humor ácido e um toque de ressentimento que se expressam numa letra direta e até insensível em certo ponto. É interessante notar que essa canção parece se opor a “De todos os loucos do mundo”, presente no primeiro CD da cantora.

“A volta do Mecenas” faz valer a diferença no instrumental desse trabalho, com uma base bem mais intensa do que estamos acostumados a ouvir nas músicas da Clarice. No entanto, a interpretação da cantora não está alinhada com a parte instrumental, o que deixa a desejar na faixa como um todo. Esse mesmo problema não é encontrado em “Deve ter sido eu”, onde voz e instrumentos casam perfeitamente, deixando a música com o tom cômico que tem a letra.

Uma história sendo contada durante a canção, é marca registrada nas músicas da Clarice, e “Marta” traz essa marca. No primeiro momento, pode parecer sem propósito ou irrelevante, mas ao analisar a letra, é possível perceber o sentimento de solidão expresso ali. “Se esse bar fechar” traz de volta um pouco de “Monomania” para “Problema Meu”, tanto na letra quanto na melodia em si. A letra demonstra um tipo de luta interior na incerteza de “esperar ou não”, mesmo diante de indícios de que “ele não vem”.

“Eu sou problema meu” parece carregar a mensagem do álbum, e faz jus ao mesmo, apesar de que nessa faixa em especifico, a letra se mostrou muito superior a interpretação vocal e ao instrumental empregados a ela.

“Eu nasci pessoa, gente

Eu não nasci coisa

Eu não sou brinde de criança, nem presente de natal

Não me leve a mal, mas você não me tem

Eu não sou um chapéu no armário de alguém

Não valho um real. Também não valho cem

Eu sou problema meu”

Nesse momento, temos uma demonstração de que o exagero pode atender a expectativa de “mais do mesmo”. "L'amour Toujours (I'll Fly With You)" foi cantada num tom tão “Clarice de ser’’, que combinado a uma base instrumental simples, se tornou quase um obstáculo no meio do CD. O mesmo pode ser aplicado a “Duet”, sendo que esta traz um pouco mais de interpretação vocal.

“Banho de piscina” talvez tenha a letra mais agressiva deste trabalho, sendo trabalhada com uma base instrumental que lembra o tecnobrega. Diferente do trabalho anterior, que versava sobre o “sofrer de amor”, Clarice nos traz letras que mostram o “sofrer pelo relacionamento”. Essa faixa traduz bem isso.

Sabe a incerteza deixada por uma promessa? Seja de um telefonema mais tarde, um e-mail marcando alguma coisa ou algo parecido. Em apensa 1:18min, “Vinheta Mix” traz todo esse sentimento e a incapacidade de fazer algo a respeito.

A próxima canção é a melhor definição de tragicômico. “Vagabunda” tira a raiva da amante e o coloca no traidor, sendo a amante vítima assim como a que foi traída. A letra é realmente cativante (o que é irônico por si só), e a melodia melancólica no ponto certo. O fade out na faixa foi um tanto quanto desnecessário.

“Toma um chopp comigo, vagabunda

Que eu sei a vagabunda que eu sou

Repara que conexão profunda

De ter compartilhado um mesmo amor

Me dá seu telefone, inimiga

Que é só você que vai compreender

Aquela agonia na barriga

Me liga, que eu tô que nem você”

Como todos os artistas, Clarice Falcão está sujeita a críticas que apontam pontos positivos e negativos e também a comentários sem sentido ou insensíveis de quem não tem ideia do que está falando. É exatamente sobre isso que a letra de "Clarice” fala. No que parece ser uma auto depreciação, a cantora faz piada com os comentários feitos sobre suas músicas. O interessante é que eu mesmo li alguns desses comentários em seus vídeos e ela quase que os transcreve por completo na música.

“Clarice sempre os mesmos três acordes

Olha um si bemol não morde

Não precisa poupar dedo

É medo de gastar, Clarice?

Não é melhor usar, Clarice?

Traz alguma novidade

Pra essa sua sonoridade

Que talvez ainda te sobre um pouco de dignidade”

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Como era de se esperar, Clarice Falcão traz um álbum de qualidade, com músicas divertidas e profundas ao mesmo tempo. Diferente de "Monomania", a cantora nos mostra que o amor não se resume à felicidade extrema ou a depressão profunda, há também a dúvida, o medo e a raiva. “Problema Meu” é um bom álbum que vale a pena ser ouvido e compartilhado.

Nota: 9,0

Música Destaque: Vagabunda

Ponto Alto: Letra e Qualidade Instrumental

Ponto Fraco: Interpretação Repetitiva

Vale a Pena Ouvir: Com certeza!

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